segunda-feira, outubro 09, 2006

"Dás-me os 10 euros, eu dou-te 5!"

6 de Outubro de 2006
Lisboa

"... hoje tentaram-me roubar. Quer dizer, fui pseudo roubado...mas...mas negociei o roubo!

Andava eu em andamento pelas ruas de Lisboa, a caminho do autocarro, 83-Portela ( que me traria a casa) quando fui abordado.

Inicialmente foi um: "Tens um cigarro", ao que lhe disse verdadeiramente: -"não fumo"... -"tens uns trocos?", ao que lhe respondi: - "tenho, contudo preciso deles para apanhar o autocarro e ir até casa"...
Enfrentei o medo. Continuou a pressionar. Andava a caminho da paragem. Lado a lado.
Era cigano. Felimente ele estava sozinho. Tinha uns olhos vazios e baços, era grande, largo, sujo, mas continuava a ser humano e ao Ser Humano perguntei o nome. Apresentei-me. Humanizei-me. Nunca afastei os meus olhos dos deles. Não evitei contacto. Falei-lhe de justiça. De um orçamento por fazer cumprir. Tentei-lhe fazer perceber porque não me devia roubar.

Nunca tinha sido roubado, ou pseudo roubado.

Sentia-me nervoso. Tentei nunca o demostrar. Autocontrolei-me. Ele não podia ver o meu medo. Analisava-o, a todos os segundos: os seus olhos, expressões faciais, tom de voz, movimentos..

Mais tarde, já na paragem, para me pressionar ainda mais disse que tiraria a navalha do bolso... queria o dinheiro que tinha na carteira, só tinha 10 euro... disse-lhe que não a podia dar porque precisava ir para casa. " Achas que esses dez euro valem uma navalhada?", - "O senhor tinha essa hipótese, eu tinha as minhas, é sempre assim não é? Mas não acho que esse seja o caminho"...

Virou-se para mim e tinha uma nota de 5 euro na mão. Pediu-me a de 10. Queria trocar.(Só me queria rir por dentro. Hilariante!) Pensei para mim que não valia a pena correr mais riscos ou stresses. Este teste já estava a ser demasiado stressante...

Depois do "negócio" perguntou: "qual o teu telemóvel,mostra ai", pensei para mim, "que lata", disse "isso é que não, já não está a ser justo". Senti na cara dele um leve sorriso. Disse o seu nome mais uma vez, perguntou-me onde morava e referiu ter um amigo pelaPortela.. ainda me
quis vender cds ao que agradeci, mas que não queria nem tinha dinheiro...
enfim... que dia...

Os Homens são uma espécie tão estranha!..mas para além de Ladrões, essas pessoas também são seres humanos, pais, comerciantes, traficantes, filhos, bebados, consumistas, amigos...etc...

Uma coisa é certa... Lisboa está perigosa..!"

Boa semana a todos vos, vencam o medo, lutem...ensinemo-nos uns aos outros... tornemos Lisboa uma cidade melhor...

Gustavo

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