segunda-feira, janeiro 31, 2005

Numa tarde em Lisboa. Observando um velho no alto de um prédio sorrindo, e alimentando com nacos de pão os pássaros Lisboetas.

"Sentei-me. Observo-te. Observo o que te rodeia. De Lisboa és tu rodeado. As varandas, os azulejos, a cor, estas ruas íngremes e estreitas de calçada negra e suja. Olho o teu rosto, está sereno, está em paz. Espero atingir a tua paz. Sim, tu aí no alto do 3º andar, tu aí que dás comida aos pombos e aos pardais. Pedaços de pão, bem vejo. Vejo o teu sorriso com os voos dos pássaros que proporcionas ao atirares as migalhas de pão. Vejo a tua atenção perante os carros e as pessoas que aqui passam. Tu comandas.
Olhas o céu, em que pensarás tu? Está sol sem dúvida. O céu está limpo. Está frio. O chão em que me sento está porco e gelado também. Não me importo, olhar-te dá-me um prazer terrível neste momento. Sentir a tua paz, desesperas? O teu olhar faz-me saudades. Por ti, olho o meu avô. Aquele que já não tenho e realmente nunca tive talvez. Saudades então de quê? Não sei. De observar a experiência de uma vida, um caminho já vivido? Não sei.
Olhas, e olhas e olhas. Pareces-me agora alguém só. Estarás só? Talvez. Só te observo, não te pergunto nada. Só deduzo. E voltas a olhar... ainda és curioso, esta vida ainda te causa espanto, espanto de quê, oh meu velho? Porque vives tu ainda? Porque abraças a vida, em que acreditas tu?
Ouvi a tua voz através de um pequeno trecho de comunicação que tiveste com um vizinho, "saúde" disse o vizinho despedindo-se. Não é o que todos queremos também? Viver?
Abraças esta rua, é tua. Os pássaros que alimentas, são teus. A vida. Tua. Tu decidirás um dia quando a deixar. Eu decidirei um dia quando começar a abraçar e amar.
Adeus meu velho, adeus... vou seguir o meu caminho. Que caminho? Um qualquer escolhido por mim, um que me faça também um dia atingir a paz. Já abandonaste a janela, eu abandono agora o chão frio, frio porque estou vivo e sou quente, só por isso tal sensação."

Gustavo Lima, Lisboa
31 de Janeiro de 2005 (15h50)- Perto do Hospital de Jesus à espera dos meus pais. Posted by Hello

Este foi o pedaço de cartão que arranquei para escrever, visto que não havia papel à mão. Saquei da caneta e comecei a escrever. Libertou. Foi bom. Realizei-me. Fui livre.


2 comentários:

Anónimo disse...

Cromo...
Livre sempre foste... com os limites postos pela prisão em que vivemos...
Vira anarqusita e F%&/& esta M#RD@ toda...
agora vai ESTUDARRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR!
xau ate maña
c",)

Catarina Bettencourt disse...

:) É bom, não é?!.. Sentir essa simplecidade, essa pureza nas pessoas, mesmo nas que não conhecemos.. sentir que pequenos gestos, q àpartida nos seriam indiferentes, não nos passam despercebidos, é bom, não é? saber que ainda existem sorrisos puros, sinceros, e inocentes... são momentos assim que nos dão prazer pela vida, e como também não podemos correr atrás dela, pq não aproveitar desde logo para amar e abraçar?..
beijo enorme**
adoro-te